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Cavia aperea

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaPreá
Preá no Zoológico de Francoforte, na Alemanha
Preá no Zoológico de Francoforte, na Alemanha
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1)
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Caviidae
Subfamília: Caviinae
Género: Cavia
Espécie: C. aperea
Nome binomial
Cavia aperea
Erxleben, 1777
Distribuição geográfica

Cavia aperea, também chamado de preá, pereá, piriá ou bengo,[1] é um roedor do gênero Cavia, família dos caviídeos. Mede cerca de 25 cm de comprimento. Possuem pelagem cinzenta, corpo robusto, patas e orelhas curtas, incisivos brancos e cauda ausente. É aparentado com o porquinho-da-índia (Cavia porcellus). Possuem comportamento social, hábitos matutinos e noturnos.[2] É encontrado na Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Em algumas regiões do Brasil é criado e usado como alimento.

"Preá" se originou do termo tupi apere'á.[3]

Seus hábitos são basicamente noturnos. De hábitos sociais bem marcados, o preá só abandona suas tocas à noite, em pequenos bandos, por trilhas que em geral já conhece. É arisco e evita os descampados nessas incursões noturnas em busca do capim novo e dos brotos e folhas de que se nutre. São animais herbívoros, alimentando-se normalmente de ervas, folhas secas, casca de árvore, frutas e sementes.[4] Os baixos levantamentos de registros dessa espécie de mamífero, pode ser explicado por seus hábitos alimentares.[5]

Algo interessante a se destacar é que os preás não consomem alface, pois o mesmo causa problemas intestinais no animal.[2]

Certas vezes, um preá pode ficar enciumado de sua parceira, o que leva a conflitos internos no grupo.

Cavia aperea é um herbívoro e se alimenta de gramíneas e outras ervas. É diurno, principalmente emergindo no início da manhã para forragear e novamente à noite. Eles não escavam tocas, mas sim complexos labirintos de túneis na superfície que possuem de 8 a 12 cm de largura. Possui áreas de latrinas ao lado dos trilhos, onde pilhas de excremento em formato de feijão podem ser vistas, assim como pilhas de hastes de grama cortadas.[6]

Esta espécie é muito variável, podendo habitar pastagens secas, savanas úmidas, bosques de cerrado e matas de galeria.[7]

Com características comuns à sua família, é natural nessas espécies a ausência de cauda e a presença de pelos densos, mas sem espinhos na cobertura do corpo. O preá possui o canal dos dentes abertos, o que provoca o crescimento deles. Acompanhadas de grandes unhas afiadas, as patas traseiras possuem três dedos e as dianteiras quatro.[8]

O animal é completamente herbívoro e sua principal fonte de energia é o capim. Até por conta disso, é comum ser encontrado próximo a riachos, brejos, córregos e rios.

Cavia aperea

Ainda nessas regiões é comum vê-los construir os ninhos próximos de moitas. Lá, realizam a reprodução. O período de gestação dura dois meses, aproximadamente, e, em média, nascem dois filhotes. Em cada grupo, cinco a dez indivíduos definem uma liderança através de uma hierarquia bem definida.[8]

Dados biológicos[9]
Dados biológicos Quantificação
1 Maturidade sexual 55-90 dias
2 Período de gestação 59-75 dias(média 68)
3 Cio 12-18 dias
4 Duração do cio 6-11 dias
5 Retorno do cio pós-parto 6-8 dias
6 Época de cruzamento Ano todo
7 Idade mínima para acasalamento 12 semanas
8 Peso no nascimento 60 a 100 gramas
9 Peso do adulto 500 a 600 gramas
10 Peso máximo alcançado 1.5 quilogramas
11 Tamanho quando adulto 25 a 30 centímetros
12 Quantidade de crias por ninhada 2-3 filhotes
13 Idade de desmama 14-20 dias
14 Início da alimentação sólida 1-5 dias
15 Vida útil da fêmea 2-4 anos
16 Vida útil do macho 4 anos
17 Frequência respiratória 69-104 por minuto
18 Batimentos cardíacos 260-400 por minuto
19 Média da pressão sanguínea 81-90mm
20 Temperatura corporal 38.5 graus
21 Leucócitos 10.000/mm3
22 Hemácias 4,5-7 milhões por mm3
23 Hematócrito 42%
24 Hemoglobina 12,35%
Osteologia do cavia aperea

Os preás são animais resistentes às doenças porém, podem sofrer de algumas enfermidades. Normalmente quando o animal está doente ele se torna triste e seus pêlos ficam secos e arrepiados.[9] Dentre as que podem eventualmente aparecer numa criação estão as seguintes:

  1. Salmonelose: produzida pela Salmonella Typhi (a mais comum, ainda que também por outros tipos de Salmonella com sintomatologia muito similar). É uma enfermidade que se difunde rapidamente produzindo alta mortalidade, principalmente para os animais em crescimento. É provavelmente a mais letal de todas as enfermidades dos preás.
  2. Pseudo tuberculose: Produzida pela Yersinia pseudotuberculosis. É uma enfermidade crônica caracterizada por nódulos sebosos, especialmente nódulos linfáticos e víscerais. Geralmente é contraída pela boca. As lesões individuais iniciam-se com pequenos focos necróticos que vão aumentando de tamanho até sobressaírem na superfície do órgão ou glândula e quando cortados apresentam um pus fluido, espesso e denso.[9]
  3. Pneumonia: Enfermidade respiratória causada por bactérias, provavelmente a mais comum, principalmente em se tratando dos preás de laboratório. Produzida pela Klebsiella pneumoniae, Pasteurella Multocida, Bordetella bronchiseptica, Streptococcus pyogenes. Os sintomas são espirros, olhos lacrimejantes, tosse, além do decaimento do animal. É uma enfermidade contagiosa, sendo necessária a separação dos animais afetados e às vezes até a destruição da colônia e um recomeço com um novo grupo de animais.
  4. Abscessos subcutâneos: Enfermidades também comuns nos preás, causadas por qualquer um dos variados gêneros de bactérias.
  5. Linfadenite cervical: Também bastante comum, é causada pelo Streptococcus.[9]
  1. Adenite Salival: Inflamação e irritação das glândulas salivares, também conhecida como parotidite. A enfermidade é simples e o animal se recupera completamente entre 7 e 14 dias.
  2. Coriomeningite: Raramente ocorre em porquinhos-da-índia.
  3. Paralisia Infecciosa: Debilidade e paralisia gradual das extremidades, especialmente dos membros traseiros, podendo-se também paralisar a bexiga.
  4. Miosite Infecciosa: Inflamação e edema nas patas traseiras. Não se sabe ao certo qual o vírus que a produz, podendo ser de origem dietética ou hereditária.[9]

Parasitárias

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Nos preás é muito difícil o aparecimento de parasitos internos. Já os ectoparasitos, ou seja, parasitos externos, são encontrados com facilidade inclusive em animais de laboratório.[9]

  1. Piolhos – Vivem sobre as escamas da pele, causando irritações consideráveis. Geralmente aglomeram-se ao redor das orelhas e ocasionam áreas nuas em consequência das picadas. É muito difícil a eliminação completa dos piolhos, mas são controlados através de submersão e pulverização com inseticidas apropriados.
  2. Ácaros e insetos : Os animais criados em laboratórios raramente são infestados por ácaros. Porém quando a criação é doméstica os preás estão mais propensos ao ataque dos parasitas. O controle é fácil e realizado através de submersão e pulverização em solução sarnicida e inseticida, as quais, se usadas em dosagem correta, não provocam nenhum tipo de toxidade aos animais.[9]
  3. Coccideose: Os protozoários vivem no intestino e aí se reproduzem com velocidade, matando células epiteliais e deixando uma superfície ulcerada, inchada e sangrando, não permitindo que o intestino funcione normalmente. Os animais recuperados normalmente são imunes, mas são portadores e a transmissão se dá pelas fezes de outros animais da mesma espécie.[9]
  4. Mucormicose: O causador e um bolor concentrado sobre o feno e forragem. Os únicos sintomas geralmente observados são causados por infecção dos nódulos linfáticos do mesentério pelo fungo, dando origem a uma grande massa benigna no abdome.[9]

Carência de vitaminas

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  1. Escorbuto: É a deficiência da Vitamina C. O escorbuto provoca um transtorno no tecido conjuntivo produzindo hemorragias, especialmente ao redor das costelas e articulações, assim como rigidez nas partes traseiras com inflamação e hemorragia na planta das patas. Os principais sintomas são dificuldade para andar, perda de peso constante e pelo sem brilho. Com o tempo aparecem articulações inflamadas e gengivas sangrando ao redor dos dentes que ficam soltos.[9]

Com dois a três meses de idade esse animal já está apto a se reproduzir, por isso, é conveniente separar os sexos na época da desmama. Para o macho, o ideal é iniciar a idade reprodutiva com oito meses de idade e para a fêmea a partir dos cinco meses.[9]

O cio do prea dura entre seis e onze dias. Quando ocorre o cruzamento, a fêmea entrará num período de gestação média de 68 dias. Quando os filhotes nascem (média de 2 a 3), a fêmea pode novamente entrar no cio em seis a oito horas após o parto. No período de gestação é muito importante tomar cuidado com as fêmeas, evitando o seu manuseio. Pode ocorrer ocasionalmente partos prematuros onde a fêmea venha a perder parte ou todos os filhotes.[9] Isto pode ocorrer por vários fatores, veja a seguir alguns deles:

  • Número grande de animais na mesma gaiola;
  • Manipular muitas fêmeas gestantes;
  • Brigas, sustos ou trasporte longos;
  • Cruzar fêmeas jovens;
  • Frequência demasiada de cruzas
  • Outro fator importante na reprodução é a alimentação, que deve ser racional e de acordo com as necessidades das fêmeas gestantes.[9]

Participação na cadeia alimentar

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Tratando-se de sua participação na cadeia alimentar,este pequeno animal pode servir de alimento à mamíferos maiores,como por exemplo a jaguatirica. É predado também por aves de rapina, cobras, canídeos e felinos selvagens, bem como cães e gatos domésticos de propriedades rurais.[6]

São reconhecidas as seguintes subspécies:

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Pode-se lembrar desse mamífero em uma grande obra de Graciliano Ramos, ''Vidas Secas''. Em um dos capítulos, Baleia, personagem descrita no livro como animal de estimação da família, sonha à beira da morte com o seu paraíso. Esse paraíso para ela, era ''um mundo cheio de preás'', assim os roedores serviriam de alimento para ela e para a família e eles então não sofreriam com a fome instalada pela seca. Vale lembrar que a história se retrata no interior do nordeste brasileiro, local onde este tipo de roedor é encontrado.[10]

Capa do livro vidas secas de Graciliano Ramos

O preá brasileira tem uma ampla gama e nenhuma ameaça particular foi identificada. É uma espécie comum com uma população estável e, além de viver em cerrados, é capaz de se adaptar a habitats fechados,como a mata atlântica no sul da Bahia, nessa região se encontra ameaçado de acordo com a lista vermelha da Bahia [11]. Por estas razões, a União Internacional para a Conservação da Natureza[12] classificou o seu estado de conservação como "menos preocupante".[12]

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 378.
  2. a b «Preá. Definição, fotos e vídeos». Conhecimento Geral (em inglês). 7 de outubro de 2016. Consultado em 8 de agosto de 2019 
  3. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 141, 1 378.
  4. Terra, Rio Doce. «# Préa ou Piriá». Rio Doce Terra 
  5. «Pequenos mamíferos não voadores em fragmentos de Mata Atlântica e áreas agrícolas em Viana, Espírito Santo, Brasil» (PDF). Israel de Souza Pinto, Ana Carolina Covre Loss, Aloísio Falqueto & Yuri Luiz Reis Leite 
  6. a b Eisenberg, John F.; Redford, Kent H. (1989). Mammals of the Neotropics, Volume 3: Ecuador, Bolivia, Brazil (em inglês). [S.l.]: University of Chicago Press. ISBN 9780226195421 
  7. «Cavia aperea (Brazilian Guinea Pig)». www.iucnredlist.org. Consultado em 10 de maio de 2018 
  8. a b «Preá é um mamífero comum em quase todo o Brasil». G1. Consultado em 8 de agosto de 2019 
  9. a b c d e f g h i j k l m «Porquinho-da-Índia ou Preá». Saúde Animal. 28 de novembro de 2015. Consultado em 15 de agosto de 2019 
  10. «Vidas Secas: análise detalhada e resumo da obra de Graciliano Ramos». Cultura Genial. Consultado em 22 de agosto de 2019 
  11. «Lista vermelha da Bahia - Avaliação do Estado de Conservação da Fauna e Flora do Estado da Bahia». www.listavermelhabahia.org.br. Consultado em 8 de agosto de 2019 
  12. a b «The IUCN Red List of Threatened Species». IUCN Red List of Threatened Species. Consultado em 8 de agosto de 2019 
Wikispecies
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O Wikispecies tem informações sobre: Cavia aperea
  • WOODS, C. A.; KILPATRICK, C. W. Infraorder Hystricognathi. In: WILSON, D. E.; REEDER, D. M. (Eds.). Mammal Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference. 3. ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2005. v. 2, p. 1538-1600.
  • DUNNUM, J.; ZEBALLOS, H.; VARGAS, J.; BERNAL, N.; BRITO, D.; QUEIROLO, D.; PARDINAS, U.; D'ELIA, G. 2008. Cavia aperea. In: IUCN 2008. 2008 IUCN Red List of Threatened Species. <www.iucnredlist.org>. Acessado em 20 de julho de 2018
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