Galium aparine
Galium aparine | |||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Classificação científica | |||||||||||||||
| |||||||||||||||
Nome binomial | |||||||||||||||
Galium aparine L. |
Galium aparine é uma espécie de planta com flor silvestre, pertencente à família Rubiaceae.
A autoridade científica da espécie é L., tendo sido publicada em Species Plantarum 1: 108. 1753.[1]
Nomes comuns
[editar | editar código-fonte]Dá pelos seguintes nomes comuns: amor-de-hortelão,[2] erva-peganhosa[3], pegamaço, rapa-saias[4] e raspa-línguas.[5][6]
Etimologia
[editar | editar código-fonte]Do que toca ao nome científico, Discórides, designou esta planta Galium, que é um derivado da palavra grega para leite galacto, por causa do uso desta planta pelos pastores gregos para fazer coadores de leite, para fazer queijo.[7]
Aparine, o epíteto desta planta, é dado por Teofrasto e deriva do étimo grego que evoca as ideias de «agarrar-se a», «pegar-se a», «colar-se a» (alguma coisa).[7]
O nome comum «amor-de-hortelão» poderá estar relacionado com o facto desta planta ser um bom indicador dos níveis de fosfato e de azoto do solo, indicando que os mesmos têm boa aptidão para serem cultivados. Também pode ser um nome irónico, tendo em vista o tendência desta planta para assobalhar as outras culturas, sendo capaz de menoscabar as colheitas na ordem dos 30 aos 60%.[8] Os seus efeitos perniciosos advém da concorrência pelo hidrogénio dos solos.[9]
Os nomes comuns «erva-peganhosa», «pagamassa» e «pegamaço» são, naturalmente, alusões às propriedades colantes da planta, que por causa das sedas ou pêlos gancheados que a revestem, se agarra ou pega às superfícies.[10]
Os nomes comuns «rapa-saia» e «raspa-línguas» são alusões ao tacto escábrido ou áspero da planta, que rapa ou raspa na superfície das coisas.[11]
Características
[editar | editar código-fonte]O amor-de-hortelão é uma planta herbácea terófita ou anual, multicaule e trepadora, com caules prostrados, frequentemente robustos, pilosos nos nós intumescidos, podendo atingir os 80 a 180 centímetros de comprimento. Tem folhas sésseis com seis a nove verticilos de forma oblonga-ovada ou oblongo-elipticas, terminando numa ponta rígida e não muito longa. As folhas são uninervadas e medem entre 12 a 60 milímetros de comprimento e 3 a 8 milímetros de largura. Há pêlos voltados em sentido ascendente na face superior das folhas.[12]
Os amores-de-hortelão, como sói de ser com o grosso das plantas terófitas, têm um plexo de raízes pouco desenvolvido. Em todo o caso, as raízes arraigam-se até aos 35 centímetros de profundidade.[13]
Flores e inflorescências
[editar | editar código-fonte]As inflorescências são multifloras e podem rondar dos 68 aos 85 centímetros, podem ser piramidais ou oblongas, com eixo sensivelmente retorso. Apresenta pequenas flores brancas dispostas em cimeiras axilares. Trata-se de flores hermafroditas, geralmente tetrâmeras, com pedicelos de 0,1 a 4,5 milímetros, menores ou quase iguais ao diâmetro da corola. A corola, por seu turno, tem 1,5 a 3 milímetros de diâmetro, é rotácea, tem quatro lóbulos erectos, é glabra e branca. Tem quatro estames e dois carpelos que se transformam no gineceu.[12]
Floresce de Março a Junho.[4]
Frutos
[editar | editar código-fonte]Os frutos são verde-escuros ou arroxeados e revestem-se de pêlos ou sedas densas e uncinadas (em forma de gancho).[3]
Os frutos secos têm 3 a 5 milímetros de comprimento e são sempre mais largos na ponta do que no pedúnculo.[14] Os frutos pesam entre 7 e 9 milígramas e as sementes pesam à volta de 3,7 milígramas.[12]
Distribuição
[editar | editar código-fonte]Esta espécie é nativa da Europa em geral, salvo as regiões mais setentrionais, Norte de África, Macaronésia e na Ásia Menor.[15] É uma espécie invasora numa infinidade de territórios, como por exemplo nos Açores,[14] na América do Sul, no Reino Unido e na Oceania.[16][17]
Portugal
[editar | editar código-fonte]Trata-se de uma espécie presente no território português, nomeadamente os seguintes táxones infraespecíficos:[18]
- Galium aparine var. aparine - presente em Portugal Continental, no Arquipélago dos Açores e no Arquipélago da Madeira. Em termos de naturalidade é nativa de Portugal Continental e do Arquipélago da Madeira e introduzida no Arquipélago dos Açores. Não se encontra protegida por legislação portuguesa ou da Comunidade Europeia.
Em Portugal Continental, é natural, mais concretamente das regiões do Noroeste ocidental, do Noroeste montanhoso, da Terra Quente transmontana, do Centro-Oeste calcário, do Centro-Oeste olisiponense, do Centro-Leste montanhoso, do Centro-Leste de campina, do Centro-Sul plistocénico, do Sudeste Setentrional, do Sudeste Meridional e do Sudoeste Setentrional.[4]
- Galium aparine var. spurium - presente em Portugal Continental. Não se encontra protegida por legislação portuguesa ou da Comunidade Europeia.[19]
Em Portugal Continental, a subespécie espúria do amor-de-hortelão, é natural das regiões da Terra Quente e da Terra Fria transmontanas, do Centro-Oeste calcário, do Centro-Sul miocénico e do Centro-Sul plistocénico.[4]
Ecologia
[editar | editar código-fonte]Do que respeita ao seu habitat, trata-se de uma espécie ruderal (ou seja cresce espontaneamente à volta das habitações humanas ou em baldios ou escombros).[19][4]
A subespécie aparine, dá-se melhor na orla de vegetação ripícola, se bem que também medra entre sebes, florestais aluviais, nas orlas de courelas, ermos, monturos, ao pé do burgau do leito dos rios e outros locais quejandos. Em locais com alguma humidade e com boa qualidade de nitrogénio e fosfatos. A presença do amor-de-hortelão é um bom indicador da presença de solos nítricos. Dá primazia a solos com pH entre os 5.5 e os 8.0.[20]
As suas necessidades de insolação são muito versáteis, pelo que consegue prosperar com níveis de insolação na ordem dos 4% aos 100%.[21]
Uso humano
[editar | editar código-fonte]Cuidados a ter
[editar | editar código-fonte]Além do seu tacto áspero, o rapa-línguas pode induzir, em certas pessoas que toquem nela, uma reacção alérgica epidérmica tópica designada[22] «dermatite de contacto».
Naturopatia
[editar | editar código-fonte]Na Antiguidade Clássica, Plínio, o Velho relata o uso da polpa desta planta para fazer teríacas (anti-venenos) contra picadas de cobras e aranhas,[23] para aliviar outites e para combater a hémostase.[24] Leonhart Fuchs, o académico alemão, arrolou-lhe as mesmas propriedades medicinais que Plínio e ainda adscreveu benefícios no tratamento do bócio.[25] Foi usada na Idade Média para fazer infusões anti-escorbuto.[3]
Na naturopatia moderna, a erva inteira, seja fresca ou seca, é usada para fins diuréticos, para fazer emplastros com efeitos anti-inflamatórios para a pele irritada e queimaduras ligeiras.[26][27]
As folhas e os frutos podem ser usados para fazer infusões, para dar espertina.[28] Essas infusões podem ser ingeridas frias ou quente, sendo certo que as infusões frias devem ser deixadas a repousar durante pelo menos 24 horas.[29]
Comestibilidade
[editar | editar código-fonte]A raspa-saias é comestível, sendo certo que a sua textura escábrida (áspera), resultante do pêlos, a torna pouco apetecível, pelo menos quando consumida crua.[30]
As folhas, os frutos e os caules podem ser cozinhados. Aliás, pode ser usada para fazer sopa.[31][32] Foi, ao longo dos séculos, usada como forragem para pascer gado, especialmente gansos.[33]
A raspa-saias pertence à mesma família que o café e pode ser usada para fazer infusões, com os frutos ou as folhas secas, que sirvam como um sucedâneo menos potente que o café, dado o seu baixo teor de cafeína.[34]
Artesanato
[editar | editar código-fonte]Dioscórides relatou que, na Grécia Antiga, os pastores usavam os caules ásperos e uncinados do amor-de-hortelão, para fazer coadores, com que coar o leite.[26] Séculos mais tarde, Carl Linnaeus, faz um relato símil, a respeito dos hábitos dos pastores suecos, tradição essa que persiste até aos dias de hoje, em regiões mais rurais desse país.[26][35]
Na Europa medieval, esta erva foi muito usada por camponeses, para fazer o enchimento de almadraques, enxergas e, havendo mais folguedo económico, até colchões de palha.[36] Eram usadas porque a natureza peganhenta da planta, mercê dos pêlos em forma de gancho que a revestem, garante que os fardos ou as bardas se mantêm compactos e agarrados um aos outros, o que por conseguinte, retumba para dar maior uniformidade à espessura ao leito.[32][36]
As raízes da erva-peganhosa também eram usadas para fazer tintura vermelha permanente.[37]
Referências
- ↑ Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. 29 de setembro de 2014 <http://www.tropicos.org/Name/27900076>
- ↑ Infopédia. «amor-de-hortelão | Definição ou significado de amor-de-hortelão no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 30 de dezembro de 2020
- ↑ a b c «Galium aparine L.». www.biorede.pt. Consultado em 31 de dezembro de 2020
- ↑ a b c d e «UTAD- Jardim Botânico -Galium aparine». Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consultado em 1 de fevereiro de 2020
- ↑ Castroviejo, S. (coord. gen.). 1986-2012. Flora iberica 146. Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid.
- ↑ Infopédia. «raspa-língua | Definição ou significado de raspa-língua no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 31 de dezembro de 2020
- ↑ a b Gledhill, David (2008). "The Names of Plants". Cambridge University Press. ISBN 9780521866453 (hardback), ISBN 9780521685535 (paperback). pp 52, 174
- ↑ Kenneth Taylor: Galium aparine L. (= Biological Flora of the British Isles. No. 207). In: Journal of Ecology. Band 87, Nr. 4, 1999, ISSN 1365-2745, S. 713–730, doi:10.1046/j.1365-2745.1999.00381.x.
- ↑ Unkrautsteckbrief Kletten-Labkraut (Memento vom 10. abril 2008 im Internet Archive) der Bayerischen Landesanstalt für Landwirtschaft, Zugriff am 6. Dezember 2011.
- ↑ «Galium aparine L.». www.biorede.pt. Consultado em 31 de dezembro de 2020
- ↑ Infopédia. «raspa-língua | Definição ou significado de raspa-língua no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 30 de dezembro de 2020
- ↑ a b c Castroviejo, S. (coord. gen.). 1986-2012. Flora iberica 145; Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid.
- ↑ Oberdorfer, Erich (2001). Plant-sociological excursion flora for Germany and neighboring areas. Stuttgart (Hohenheim): Eugen Ulmer. pp. 769–770. ISBN 3-8001-3131-5
- ↑ a b «Flora-On | Flora de Portugal interactiva». flora-on.pt. Consultado em 31 de dezembro de 2020
- ↑ Kew World Checklist of Selected Plant Families
- ↑ US Forest Service
- ↑ Biota of North America Program
- ↑ Sequeira M, Espírito-Santo D, Aguiar C, Capelo J & Honrado J (Coord.) (2010). Checklist da Flora de Portugal (Continental, Açores e Madeira). Associação Lusitana de Fitossociologia (ALFA).
- ↑ a b «Flora-On | Flora de Portugal interactiva». flora-on.pt. Consultado em 31 de dezembro de 2020
- ↑ Erhard Dörr, Wolfgang Lippert: Flora des Allgäus und seiner Umgebung. Band 2, IHW, Eching 2004, ISBN 3-930167-61-1, S. 509.
- ↑ Hartmut Dierschke, Gottfried Briemle: Kulturgrasland. Wiesen, Weiden und verwandte Staudenfluren. Eugen Ulmer, Stuttgart 2002, ISBN 3-8001-3816-6.
- ↑ Evanoff, K. (2013). «Bedstraw is a weed that bites back». Tribune Chronicle. Cópia arquivada em 13 de abril de 2014[Link Evanoff]
- ↑ Jones, Pamela. Just Weeds: History, Myths, and Uses. Prentice Hall Press, New York. 1991.
- ↑ C. Plinius Secundus: Naturalis historia. Buch XXVII, §32. (online).
- ↑ Leonhart Fuchs: New Kreüterbuch. Caput XIIII, 1543 (Nachdruck ISBN 3-8228-1298-6), (online).
- ↑ a b c Grieve, Maud (1971). «Clivers». A Modern Herbal: The Medicinal, Culinary, Cosmetic and Economic Properties, Cultivation and Folk-lore of Herbs, Grasses, Fungi, Shrubs, & Trees with All Their Modern Scientific Uses, Volume 1. [S.l.]: Dover Publications. p. 207. ISBN 9780486227986
- ↑ Galium aparine bei Plants For A Future
- ↑ «Extend the Benefits of Massage: Part 2 | achs.edu»
- ↑ Schneider, Anny & Mellichamp, Larry (2002). Wild Medicinal Plants: What to Look For, When to Harvest, How to Use. [S.l.]: Stackpole Books. p. 73. ISBN 9780811729871
- ↑ Elias, Thomas S.; Dykeman, Peter A. (1990). Edible Wild Plants: A North American Field Guide. [S.l.: s.n.] ISBN 9780806974880. Consultado em 14 de agosto de 2013
- ↑ Galium aparine bei Plants For A Future
- ↑ a b Tull, Delena. "Edible and Useful Plants of Texas and the Southwest." 1999, p. 145
- ↑ Dukes, James A. (2002). The Green Pharmacy Herbal Handbook. [S.l.]: Macmillan. p. 102. ISBN 9780312981518
- ↑ Wood, Matthew (2008). «Galium aparine. Cleavers. Lady's Bedstraw. Goosegrass.». The Earthwise Herbal: A Complete Guide to Old World Medicinal Plants. [S.l.]: North Atlantic Books. p. 267. ISBN 9781556436925
- ↑ Loudon, John Claudius. "An encyclopædia of plants", 1836, p. 93
- ↑ a b Runkel, Sylvan T. & Roosa, Dean M. (2009). Wildflowers of the Tallgrass Prairie: The Upper Midwest. [S.l.]: University of Iowa. p. 65. ISBN 9781587297960
- ↑ Hutchens, Alma R. (1992). A Handbook of Native American Herbs. [S.l.]: Shambala Publications. p. 97. ISBN 9780877736998
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Checklist da Flora do Arquipélago da Madeira (Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens) - Grupo de Botânica da Madeira
- Galium aparine - Portal da Biodiversidade dos Açores
- Galium aparine - The Plant List (2010). Version 1. Published on the Internet; http://www.theplantlist.org/ (consultado em 29 de setembro de 2014).
- Galium aparine - International Plant Names Index
- Castroviejo, S. (coord. gen.). 1986-2012. Flora iberica 1-8, 10-15, 17-18, 21. Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid.